O PROJETO DE PODER NEOPENTECOSTAL, A REPRESSÃO SEXUAL E O BOLSONARO
por Pietro Nardella-Dellova
O neopentecostalismo tem, e já faz tempo (desde a sua primeira manifestação no final dos anos 50, com a Igreja "O Brasil para Cristo" e, também, "Deus é Amor", seguidas da igreja "Casa da Bênção" e "Evangelho Quadrangular"), um projeto de poder religioso-político que inclui a teologia dos versículos (versículos bíblicos deslocados do contexto histórico e literário judaicos), a teologia da alienação social, que considera, entre outras coisas, a pobreza e a miséria como frutos da ação demoníaca e, assim, liberando os exploradores diretos (empresários inescrupulosos e bancos) da responsabilidade (pois, o diabo e o trabalho de "macumba" são responsáveis pela desgraça econômica e afetiva de uma família, segundo pregram os neopentecostais).
Nos anos 60, o neopentecostalismo foi apoiado imensamente pelos governos militares (e pelos estadunidenses) que viam nele a melhor e mais eficaz forma de adestramento político, esvaziamento de consciências esclarecidas e desfazimento de pretensões críticas, bem como um tipo de anestesia coletiva: os neopentecostais são basicamente grupos zumbilizados!
A ligação dos neopentecostais com Israel não tem exatamente um caráter político (embroa tenha um efeito político), mas com uma ideia bíblico-teológica de Israel como "povo eleito". Israel é, para eles, um mito, e os neopentecostais investem milhões para manter esta conexão. Por exemplo, o Pastor Manoel de Mello (fundador e líder da Igreja O Brasil Para Cristo) foi um dos primeiros a investir em viagens para Israel, inclusive batizando-se e batizando nas águas do Rio Jordão (coisa feita também por Edir Macedo e Bolsonaro). Israel não tem a ver com política, nem Kibutzim, nem Estado, mas com a "força de Deus", capaz de destruir os inimigos (todos os inimigos, incluindo árabes, muçulmanos e, também, palestinos). A ideia que os neopentecostais têm é de "vontade de Deus" e, por isso mesmo, nenhum neopentecostal aceita qualquer tipo de diálogo político e civilizado entre Israelenses e Palestinos.
A questão da sexualidade não tem valor em si mesma. Na verdade, os neopentecostais não têm reservas com a prática sexual, incluindo a promiscuidade sexual, adultérios e coisas tais (a maioria dos líderes neopentecostais tem farta experiência nesta área). A repressão sexual não tem sentido para "purificar" o sexo e a família, mas, como qualquer repressão, para inibir a capacidade criativa, libertária e, óbvio, política. É uma questão de domesticar (os criadores de animais sabem do que eu estou falando).
Obviamente, seria apenas uma bobagem, não fosse um discurso perigoso, a demonização do comunismo (que nunca existiu no Brasil), a criação de inimigos "corruptos", para os quais toda a atenção é direcionada. As igrejas falam disso todos os dias, várias vezes por dia: ataques ao comunismo e à sexualidade liberta! E, finalmente, Bolsonaro é a criação disso tudo: neopentecostalismo, batismo no Rio Jordão, aproximação com um governo israelense (transbordantemente investigado por corrupção), aproximação óbvia com um governo estadunidense (também investigado) e um discurso repressor, flagrante e desavergonhado, no que respeita à vida sexual das pessoas. O ataque ao comunismo e à vida sexual não é novo, mas o material necessário para esse tipo de governo.
O que está por trás de Bolsonaro não é seu ódio à vida sexual (ele mesmo tem uma vida sexual bem diversa, além de três casamentos e, nesse sentido, sua "jovem esposa" é um dos seus troféus - um presente de Deus), mas o uso que faz, e fará, da repressão sexual e, também, do ataque ao comunismo (o que ele entende de comunismo, lógico), a fim de abrir caminhos e facilidades para grandes empresários, exploradores de terras, grandes empresas americanas, atividade financeira e, ao final, deixar o país para o "ius utendi, ius fruendi e ius abutendi" dos especuladores. Os neopentecostais, neste quadro de horrores, são agentes diretos e atuantes da especulação financeira, exploração de terras, destruição (ou obstáculo) na Educação, Ciência e Tecnologia, repressão sexual e política.
Entrementes, o PT (que nunca foi comunista nem socialista, diga-se alto e bom som), embora com boas políticas sociais e públicas, não teve qualquer vergonha de se aproximar dos poderosos (empresários estelionatários e bancos), das igrejas neopentecostais e, pior que tudo, para servir à anulação (e anestesia) dos movimentos sociais, dos sindicatos e da classe trabalhadora em geral.
Neste sentido, o projeto neopentecostal que começou no final dos anos 50, ganhando força nos anos 60, finalmente tomou o poder agora, e nele ficará por um bom tempo. Não há movimentos sociais fortalecidos, não há sindicatos dos trabalhadores fortes; não há estudantes de ensino médio e superior com visão crítica e ação proativamente emancipadora, somado a um (eterno) discurso de "luta contra a corrupção" e moralização dos costumes. Some-se, ainda, a tudo isso não haver líderes políticos progressistas (a maioria morreu) e, principalmente, por Bolsonaro (e sua equipe) sofrer "oposição" facebookiana, o que, ao contrário do que se imagina, apenas faz sua força crescer, como dizem os neopentecostais: "em o nome do Senhor e Salvador Jesus Cristo".
(Pietro Nardella-Dellova, é Judeu-Italiano (ebreo), originário do Ghetto do Lazio, Italia. Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal, Rio de Janeiro. Mestre em Direito pela USP, Mestre em Ciência da Religião pela PUC/SP, Pós-graduado em Direito Civil e Literatura, Graduado em Direito e Filosofia. Professor de Direito desde 1990, e autor de vários livros. Associado ao Gruppo Martin Buber, de Roma, para o Diálogo entre Israelenses e Palestinos; Membro da "Accademia Napoletana per la Cultura di Napoli, Napoli". Membro do Conselho de Notáveis da OAB de Santa Catarina, Membro da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB de São Paulo, Pesquisador da PUC/SP em Direitos Humanos e Judaísmo)
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