RASGAR, RISCAR, SEPARAR e PENEIRAR ou, PRELIMINARES
Um certo homem e uma mulher vieram de uma cidade longínqua, de outra tribo fantasiosamente mista. Eles me disseram ter um Mestre, mas nada sabiam sobre ele – não conseguiam ouvir os ensinamentos de seu Mestre, pois havia ruído, muito ruído, muita fumaça. E queriam, ainda, aprender algo sobre Moshè, a Torá e o Judaísmo.
Va bene...
<<o que trazem em suas mãos?>>
Perguntei.
<<o livro dos livros>>
Responderam!
<<mas, não há um livro dos livros>>
Adverti!
<<querem mesmo aprender?>>
Tornei a perguntar.
<<queremos>>
Responderam entusiasmados!
Então, trouxeram o café com bolo de fubá (café, muito café, é imprescindível para entender Moshè e a Torá, e bolo de fubá perfumoso, para compreender o Judaísmo). Quem quer aprender algo desta magnitude deve pagar com café e bolo de fubá (apenas café e bolo de fubá).
E, enquanto me deliciava com bolo de fubá e café, trouxeram seu “livro dos livros” e puseram sobre a mesa. E passei a lhes dizer algo:
<<Cuidadosamente libertem,
digo, separem, cada um dos autores
e livros,
tirando todas as indicações impertinentes.>>
Estranharam! Pareceu-lhes uma profanação arrancar com as mãos cada um dos autores e cada um dos livros! Mas, entenderam que não há nenhuma unidade que justifique a aproximação destes autores!
Continuei:
<<Separem. Separem todos!
Deixe a Torá de um lado.
Deixem cada um dos Profetas em separado;
separem um do outro.
Deixe este livro
de amor entre um homem e uma mulher
absolutamente destacado de todos os outros.>>
E assim fizeram. Solicitei que rasgassem, sem dó, as folhas iniciais e internas com expressões “velho, antigo, novo” (neste caso, rasgando em mil pedaços, pois trazem a sombra de séculos de mentiras):
<<Rasguem. Rasguem.
Nada é velho
e nada é novo
em relação à Moshè,
à Torá
e ao Judaísmo.>>
E, depois, a meu pedido, separaram quatro livros dos indicados como novos (que tinham sido escolhidos entre os mais de trezentos do início da Idade Média), com relatos dispersos:
<<Não há conexão entre estes livros – e não haveria
entre os mais de trezentos covardemente
chamados de apócrifos! Apócrifos?>>
Continuei:
<<Peguem uma peneira,
destas de pedreiro,
usadas para escolher a areia boa e separá-la de pedras inúteis – areia boa para construção;
ou peguem uma redinha, destas usadas na cozinha
para escolher feijão e arroz, separando-os do que não presta, dos grãos podres, pedras e bichinhos – deve ficar apenas o arroz e feijão bons para comer, para alimento!>>
<<já sei!!! Como uma rede de pescador?>> disse o homem com um ar de entendimento e descoberta!
<<Não, não>>, disse-lhe, levantando a mão! <<não, rede de pescador não, pois quanto mais se aproximar da Torá e de seu primeiro texto, isto é, Bereshit, descobrirá que ali o alimento é frutos e o verde do campo. Peixes, apenas nos mares e rios, livres e soltos!>>
<<peneira de construção e redinha de escolher grãos!>> Sugeri. <<joguem estes livros aí, nesta peneira e nesta redinha, mexam, batam, joguem para o alto, espalhem, assoprem, e tornem a bater, jogar, espalhar e assoprar e, então, o que sobrar se parecerá com algo da Torá – não muito, mas sobrará>>
<<Livros na peneira?>> Cheios de dúvida, sussurraram!
<<Sim, lancem os livros na peneira, mas, antes, risquem todas estas notas remissivas. Estas notas remissivas são pedras visíveis, entraves que saltam aos olhos e nem devem entrar na peneira. Tire-as antes! Tire-as com as mãos e joguem fora, queimem estas notas. Notas remissivas são como grades para o entendimento e conduzem comumente aos abismos de quem as escreveu!>>
E, ao final, quando bateram, e sopraram, e lançaram para o alto, os livros ficaram menores – não eram mais livros como nunca o foram antes – e na peneira e nas redinhas, como ocorre nas construções e pias, aquele monte de resíduos, bichinhos, pedrinhas, mitos, mitologias, fantasias, mentiras, interpolações, inserções, falsidades, infernos, céus, fábulas medievais, simulacros, erros de tradução, termos gregos, romanos e persas e abaixo, bem abaixo de suas peneiras e redinhas, começaram a ver e ouvir alguma coisa que até parecia a voz de seu Mestre. E descobriram que seu Mestre, que também era judeu (aliás, apenas e tão somente judeu) ensinou a Torá, Moshè e o Judaísmo - nada mais!
Eles não precisariam, enfim, ter vindo a mim se antes tivessem tido a coragem de rasgar, separar, riscar e colocar em peneiras e redinhas! Para ouvirem o seu Mestre devem, em primeiro lugar, silenciar todos que escreveram ou falaram sobre ele. Devem desprezar todos que o desenharam, que relataram algo sobre ele e, sobretudo, aqueles que andam pelo mundo lançando pedrinhas, bichinhos e sujeira na areia de construção e no feijão e arroz de alimentação.
© Pietro Nardella-Dellova, in trecho di DERECH: O CAMINHO DE VOLTA, 2011
Um certo homem e uma mulher vieram de uma cidade longínqua, de outra tribo fantasiosamente mista. Eles me disseram ter um Mestre, mas nada sabiam sobre ele – não conseguiam ouvir os ensinamentos de seu Mestre, pois havia ruído, muito ruído, muita fumaça. E queriam, ainda, aprender algo sobre Moshè, a Torá e o Judaísmo.
Va bene...
<<o que trazem em suas mãos?>>
Perguntei.
<<o livro dos livros>>
Responderam!
<<mas, não há um livro dos livros>>
Adverti!
<<querem mesmo aprender?>>
Tornei a perguntar.
<<queremos>>
Responderam entusiasmados!
Então, trouxeram o café com bolo de fubá (café, muito café, é imprescindível para entender Moshè e a Torá, e bolo de fubá perfumoso, para compreender o Judaísmo). Quem quer aprender algo desta magnitude deve pagar com café e bolo de fubá (apenas café e bolo de fubá).
E, enquanto me deliciava com bolo de fubá e café, trouxeram seu “livro dos livros” e puseram sobre a mesa. E passei a lhes dizer algo:
<<Cuidadosamente libertem,
digo, separem, cada um dos autores
e livros,
tirando todas as indicações impertinentes.>>
Estranharam! Pareceu-lhes uma profanação arrancar com as mãos cada um dos autores e cada um dos livros! Mas, entenderam que não há nenhuma unidade que justifique a aproximação destes autores!
Continuei:
<<Separem. Separem todos!
Deixe a Torá de um lado.
Deixem cada um dos Profetas em separado;
separem um do outro.
Deixe este livro
de amor entre um homem e uma mulher
absolutamente destacado de todos os outros.>>
E assim fizeram. Solicitei que rasgassem, sem dó, as folhas iniciais e internas com expressões “velho, antigo, novo” (neste caso, rasgando em mil pedaços, pois trazem a sombra de séculos de mentiras):
<<Rasguem. Rasguem.
Nada é velho
e nada é novo
em relação à Moshè,
à Torá
e ao Judaísmo.>>
E, depois, a meu pedido, separaram quatro livros dos indicados como novos (que tinham sido escolhidos entre os mais de trezentos do início da Idade Média), com relatos dispersos:
<<Não há conexão entre estes livros – e não haveria
entre os mais de trezentos covardemente
chamados de apócrifos! Apócrifos?>>
Continuei:
<<Peguem uma peneira,
destas de pedreiro,
usadas para escolher a areia boa e separá-la de pedras inúteis – areia boa para construção;
ou peguem uma redinha, destas usadas na cozinha
para escolher feijão e arroz, separando-os do que não presta, dos grãos podres, pedras e bichinhos – deve ficar apenas o arroz e feijão bons para comer, para alimento!>>
<<já sei!!! Como uma rede de pescador?>> disse o homem com um ar de entendimento e descoberta!
<<Não, não>>, disse-lhe, levantando a mão! <<não, rede de pescador não, pois quanto mais se aproximar da Torá e de seu primeiro texto, isto é, Bereshit, descobrirá que ali o alimento é frutos e o verde do campo. Peixes, apenas nos mares e rios, livres e soltos!>>
<<peneira de construção e redinha de escolher grãos!>> Sugeri. <<joguem estes livros aí, nesta peneira e nesta redinha, mexam, batam, joguem para o alto, espalhem, assoprem, e tornem a bater, jogar, espalhar e assoprar e, então, o que sobrar se parecerá com algo da Torá – não muito, mas sobrará>>
<<Livros na peneira?>> Cheios de dúvida, sussurraram!
<<Sim, lancem os livros na peneira, mas, antes, risquem todas estas notas remissivas. Estas notas remissivas são pedras visíveis, entraves que saltam aos olhos e nem devem entrar na peneira. Tire-as antes! Tire-as com as mãos e joguem fora, queimem estas notas. Notas remissivas são como grades para o entendimento e conduzem comumente aos abismos de quem as escreveu!>>
E, ao final, quando bateram, e sopraram, e lançaram para o alto, os livros ficaram menores – não eram mais livros como nunca o foram antes – e na peneira e nas redinhas, como ocorre nas construções e pias, aquele monte de resíduos, bichinhos, pedrinhas, mitos, mitologias, fantasias, mentiras, interpolações, inserções, falsidades, infernos, céus, fábulas medievais, simulacros, erros de tradução, termos gregos, romanos e persas e abaixo, bem abaixo de suas peneiras e redinhas, começaram a ver e ouvir alguma coisa que até parecia a voz de seu Mestre. E descobriram que seu Mestre, que também era judeu (aliás, apenas e tão somente judeu) ensinou a Torá, Moshè e o Judaísmo - nada mais!
Eles não precisariam, enfim, ter vindo a mim se antes tivessem tido a coragem de rasgar, separar, riscar e colocar em peneiras e redinhas! Para ouvirem o seu Mestre devem, em primeiro lugar, silenciar todos que escreveram ou falaram sobre ele. Devem desprezar todos que o desenharam, que relataram algo sobre ele e, sobretudo, aqueles que andam pelo mundo lançando pedrinhas, bichinhos e sujeira na areia de construção e no feijão e arroz de alimentação.
© Pietro Nardella-Dellova, in trecho di DERECH: O CAMINHO DE VOLTA, 2011
3 commenti:
Bravo Caríssimo!
Excelente Mestre! Postei esse comentário exatamente tomando café e comendo um pedaço de bolo de fubá!
Bravíssimo!
Pietro que texto profundo. Simples e profundo! Quem dera as palavras e os ensinamentos do Mestre pudessem ser peneirados e livres de tantas interpretações e "excessos"... bjo. Isabel bell
Posta un commento