por Pietro N-Dellova
O Pronome de Tratamento é aquele aspecto retrógrado de uma classe gramatical, é discriminatório, inútil (além de hipócrita!) e faz não mais que qualificar, injustamente, os seres humanos.
Ou todos são "excelências" - ou ninguém é!
Ou todos são "reverendíssimos" - ou ninguém é!
Ou todos são "santidades" - ou ninguém é!
Ou todos são "meritíssimos" - ou ninguém é!
Em um país, como o Brasil, no qual 40 milhões de negros foram escravizados, 8 milhões de indígenas foram exterminados, milhões de imigrantes foram enganados, 12 milhões vivem em favelas, 3,5 milhões vivem em cortiços, 800 mil pessoas (a maioria de pretos, miseráveis e analfabetos) estão presas em condições de fazer inveja às prisões do ISIS, a grande maioria de egressos não tem algo chamado "habilidade" e "competência", centenas de mulheres dão à luz nas calçadas, milhares de crianças morrem, enfim, em um país em que os políticos (quase todos) não passam de vermes, roedores e criminosos e, agora, reina absoluto, o mosquito aedis egypt, deveria causar vergonha e repulsa, a qualquer um, se classificado - ou classificar - alguém com Pronome de Tratamento.
É preciso tirar da gramática - e da língua - todo resquício opressivo, incluindo os plurais para o masculino e as estruturas sintáticas minimais. Enquanto isso não ocorrer, continuaremos em hipocrisia, em preconceitos, em mortes selecionadas! E, assim, quando ocorrer a purificação da Gramática (e das consciências) seremos seres humanos solidários e felizes!
© Pietro N-Dellova, in trecho "atualizado" da minha primeira Dissertação de Mestrado "A Palavra como Construção do Sagrado: Um Estudo da Poesia e de Osman Lins", PUC/SP, 1998 (em breve, sairá a publicação deste trabalho)
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