ENTÃO, MAIS HISTÓRIA, MAIS VERDADE E MENOS LOUCURA OSMÓTICA
(em função do conflito Israel-Hamás)
por Pietro N Dellova
Tenho lido alguma coisa das muitas coisas (e coisinhas) que se publicam, tanto na Internet quanto em jornais impressos, do mundo, da Europa e alguns da América Latina, sobre o conflito, brutal, entre Israel e Hamás. Depois de ler tanto, chego a uma primeira conclusão, aliás, duas:
1) As pessoas do mundo todo, entre as quais, italianos, judeus, árabes e sul-americanos, enfim, as tantas pessoas que se manifestam, das quais li alguma coisa (ou coisinha) nada sabem da História Judaica, História Árabe, Judaísmo e Islamismo, bem como das Línguas hebraica e árabe (e suas variações). Nada sabem sobre os movimentos emancipatórios judaicos e árabes e quase nada sobre o pré-1948 e o pós-1948. A ignorância, nesse caso, é mais nefasta que o conflito atual, pois não apenas mata corpos, mas, sobretudo, cérebros, mentes, corações e consciências!
2) Sinto-me um "merda" ou, como disse Sartre nos anos 60 sobre a questão Israel-Árabe, um "ausente", pois até agora não tive a predisposição de escrever algo mais científico e histórico, ou mesmo de proferir alguma palestra ou promover algum encontro para tratar do tema, exceto minhas aulas de Direito Hebraico, em colaboração com a Cadeira de História do Direito da Faculdade de Direito da USP. Por um lado, fiquei um tanto ausente, porque quando quis me manifestar em 2009, fui violenta e injustamente atacado por alguns dos meus colegas professores do Brasil, de certa "agremiação de professores de Direito", sob o argumento de que eu, enquanto Judeu, não poderia me manifestar, pois havia um certo "pertencimento" (argumento usado por eles à época). Sem desmerecer a pessoa que usou tal argumento (a quem respeito muito), mas é um argumento flagrantemente pobre (para dizer o mínimo), pois eu, eu mesmo, como Judeu, tenho, junto com Árabes e Muçulmanos, a legítimidade "a priori", além do dever, para falar sobre isto. Por outro lado, fui (e sou) muito criticado pela comunidade judaica (mais a brasileira e menos a italiana), sob o argumento de que eu, assumidamente anarquista, não tenho razão para falar do assunto que envolva "Estado". Enfim, o estado de "ausência" neste assunto, apenas contribui para o alargamento da ignorância, da proliferação de juízos miseráveis e, finalmente, para um crescente -e assustador- antissemitismo e islamofobia, observáveis a olho nu em cada postagem ou artigo!
Resolvi, então, desenvolver ações concretas, ao menos no que respeita ao mundo acadêmico, universitário, incluindo, textos, palestras, grupos e encontros, para esclarecer e lançar algum tipo de referência para ajudar no que mais desejamos, a paz duradoura. Mas, ainda, tenho dois outros objetivos, a saber, colocar-me contra, frontalmente contra, como militante, às falas antissemitas e islamofóbicas (substrato da maioria das manifestações).
Começo, aqui, agora, trazendo alguns esclarecimentos (mais adiante, produzirei textos e artigos, bem como organizarei grupos de pesquisa e de estudo e, também, palestras e conferências a este respeito. Também, comecei o contato com vários professores e pesquisadores "do mundo", judeus, muçulmanos, árabes, não judeus, não árabes etc, para a elaboração de um livro sob minha organização e coordenação com esta temática). Eis, então, alguns esclarecimentos sintéticos:
a) Por "Sionismo", devemos entender um movimento filosófico, não religioso, de 1897, cujo objetivo era a emancipação dos judeus que viviam principalmente na Europa, sem segurança. O fim último do "sionismo" era a constituição de um lar judaico, sob a proteção da lei internacional. O que era ideia encontrou um terreno propício no Oriente Médio, em face dos Judeus que lá moravam fazia milênios (são chamados judeus do Eshuv, ou seja, judeus que nunca saíram daquelas terras). O chamado movimento sionista encontrou seu objetivo, concretizando-se na constituição do Estado de Israel, em 1948. Desde então não há movimento sionista nem, muito menos Estado "sionista", a menos que utilizemos esta expressão com muita impropriedade, porque o Estado de Israel é formado, hoje, entre outros, por grupos judaicos, árabes muçulmanos, árabes cristãos, africanos (negros), e drusos. A menos que utilizemos a expressão "sionismo/sionista" (sem mais sentido) para nos referirmos a grupos radicais da direita israelense (mas, grupos de direita não contam, devem ser combatidos!)
b) Antes de 1948, aquelas terras eram chamadas de "Palestina". Os romanos assim chamaram aquela região "Syria Palaestina ", no século II e.c. (era comum), nome não inventado pelos romanos, mas de origem grega "Philistia" designando uma região que abrangia, no século XII a.e.c. (antes desta era comum) o que hoje é Tel Aviv até Gaza. Portanto, uma região dos filisteus (Philistia) que não eram, por sua vez, semitas, ou seja, nem árabes nem judeus. Os filisteus eram originados de Creta e ocuparam vários pontos do Mar Mediterrâneo, incluindo Gaza (todos conhecem o mito de Sansão e Dalila? Dalila era filisteia!). Portanto, Palestina não se refere, até então, a um país ou povo específico, mas a uma região geográfica.
c) Antes de 1948, a, então região chamada Palestina não era um país, era um lugar, onde existiam judeus, árabes, drusos, ingleses, cristãos, muçulmanos etc. Estava sob "mandato" internacional da Inglaterra. As relações eram entre judeus-árabes-muçulmanos-drusos-cristãos e, como maior número, especialmente, entre judeus e árabes. Não havia israelense nem o que chamamos hoje "palestinos" (como povo). Os judeus viviam comumente em Kibbutzim, da agricultura, enquanto os árabes e outros, também, da agricultura familiar.
d) Com a criação do Estado de Israel, houve oposição de todo o mundo árabe. E, desde logo, guerra entre os recém-nascidos israelenses e os árabes. Por isso mesmo, nesta ocasião, todos os jornais, livros, artigos etc, mencionam apenas o conflito "israelo-árabe". Após a primeira guerra, de 1948, vencida por Israel contra a coligação Síria-Líbano-Jordânia-Egito-Iraque, começada no dia 15.5.1948 com a invasão destes países, um dia depois da declaração de Independência de Israel, o conflito passou a ser chamado Israelo-Árabe. Também, não é mais apropriado (desde os anos 70) utilizar os termos "pan-arabismo ou pan-islamismo", excetuando os grupos radicais (mas, grupos radicais não contam!)
e) Apenas a partir do final dos anos 60, os árabes da resistência que lá ficaram (ou estavam em campos de refugiados), abandonados pelos países árabes, estes, vencidos em todas as guerras, começaram a ser identificados como árabes palestinianos. Todos os outros passaram a ser chamados de árabes israelenses (inserido nos contexto do Estado de Israel, assim como, drusos israelenses, cristãos israelenses ...).
f) Dos anos 70, os árabes não israelenses (da Cisjordânia e Gaza), passaram a ser chamados "palestinos", e o conflito, não mais Israelo-Árabe, mas Israelense-Palestino que se arrastou, de forma sangrenta, pelos anos 70, 80 e 90. Apenas depois de muitas intervenções internacionais, bem como acomodação de israelenses e palestinos, começou algum processo de paz objetivando à criação do Estado da Palestina, processo esse, quase sempre interrompido, seja pela direita israelense, seja por grupos radicais palestinos, entre os quais, o Hamás. A partir de 90, o conflito não é exatamente (embora seja ainda em certa medida), entre Israelenses e Palestinos, mas, entre Israel e Hamás.
g) ....continuarei este esclarecimento mais adiante, em nova oportunidade...
obs.: conforme meus textos anteriores, continuo contra a resposta bélica israelense em face dos ataques do Hamás. Considero que haja outros meios, alternativos, de resposta!
Pietro N Dellova, 2014
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